domingo, 25 de novembro de 2007

Post 13: Devaneio

por: Daniel Oliveira



Post 12: o cego que devaneava no trem

Em Dias de sol imagino o som das crianças na rua

Brincando, correndo de cá para lá e de lá para cá

Suas mães gritando Zelando por suas vidas

Cuidado Menino!

Cuidado Menina!

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Imagino Musas sob o sol, ou

Com seus corpos a transpassar as ondas

E no final da tarde, com as águas mais calmas e

O sol baixinho no céu já indo embora,

como se mergulhasse no imenso azul do mar.

Eu imagino...

____

Em dias de Chuva,

Vejo-me correndo na rua

O aguaceiro despencando sobre minha cabeça

E correndo em fio pelo corpo inteiro.

Ouço os murmúrios das moças galegas,

com água nas canelas secas - ai ui

Ouço a chuva

Parece música

____

Nos dias frios

Quando ouço dizer: está nublado

Penso sobre o que é nublado

Afinal, não percebo bem o efeito das nuvens.

Percebo o calor do sol,

O geladinho da chuva,

Posso tocar as flores e sentir seu perfume

Mas e as nuvens?

Pego-me então a imaginar cores.

Tons não muito claros,

Não muito escuros

Tons cinzentos que trago na memória dos tempos de infância

Mas não me lembro das nuvens, fico confuso!

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Ah, o barulho do trem...

____

Ouço agora o barulho do trem, que aguardava

...

____

Em meio a outros tantos ruídos

dessa paisagem sonora que me envolve agora,

percebo um diálogo que discorre num incrédulo

e monocromático olhar sobre o mundo.

Meus pensamentos haviam, então, sido interrompidos.

Eram vozes femininas,

falavam em tom frio e pessimista sobre um mundo que, pelas palavras, pareceu-me opaco, diverso ao modo que eu estava acostumado a imaginar.

Ao som de palavrões, que uma mais exaltada berrava,

Outra, dizia-se iludida, coisas de amor quando não dá certo, quando o coração faz a escolha errada. Contudo, justificava ser essa ilusão, a de que um amor impossível daria certo, o que a mantinha viva.

A amiga ainda exaltada, sem prestar muita atenção ao que a outra dizia, praguejava o maquinista, o trem, os passageiros e reclamava do tempo nublado.

O que fez com que retomasse meus pensamentos...

____

Pensei que possivelmente esse meu mundo que imagino do escuro, talvez seja muito mais colorido do que, de fato, é o mundo que nos cerca.

Nesse mundo, o real, que talvez seja cão e atordoado pela presença do homem mau

A imaginação como aliada talvez seja saída para a crueza da realidade que nos cerca. Mas sem fechar os olhos, antes abrindo-os bem para assim como eu, um cego, ter coragem para que ainda de lá de dentro do túnel, poder enxergar alguma luz.

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Já chegou minha estação.




Daniel Oliveira

domingo, 11 de novembro de 2007

Post 11: Exposição LAVRA PALAVRA



LAVRA PALAVRA

Exposição INI
Uma linguagem internacional de cores, poesias e símbolos

INI: internacional, novo, infinitesimal.
NOVO: criação, poesia e obra
INFINITESIMAL: técnica digital e suporte que vai desde o infinitamente grande ao menor.

LAVRA PALAVRA: Projeto desenvolvido com fotos e poemas da Escola Livre de Literatura / Casa da Palavra. Trabalhos em técnica digital, ?????

· Neli Vieira

Artista plástica, escritora, participante da Escola Livre de Literatura

Últimas exposições:

Museu do KEMI, Finlândia
Ricoleta, Buenos Aires, Argentina
Museu da Arte Moderna, Pescada, Itália
EXPOSIÇÃO REALIZADA ESPECIALMENTE PARA A ABERTURA DO ARTE DA CIDADE 2007
casa da palavra – escola livre de literatura nov / dez 2007
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(outra moldura e /ou )
Licença

Peço licença para uma tempestade, como nomeou Mônica Rodrigues. A tempestade veio, grossa, de uma das mil conversas, análises, trocas, embates, in persona, mas sobretudo e no quase-todo,virtuais: via livreliteraturagrupos, estudossurrealistasgrupos, criacaoliterariagrupos, livrocasagrupos, oralidadepoeticagrupos, seminariosavancadosgrupos e o recente http://casadapalavra.cjb.net/. Redes e mais redes, tessituras, teias.
Tanto, que o LAVRA PALAVRA também nasceu daí, em um dia e meio.
Contas sem conta
escolhemos fragmentos da citada tempestade, cuidando para que esta casa e seus grupos fortaleçam até o impossível sua atitude concreta e poi- ética, em favor do restauro, mesmo, dos sentidos da coisa pública.
A Tempestade, fragmentos cheios de primeiras intenções
O que fizemos da ELL e da Casa da Palavra em 2005 ? Uma revolução (revolução vem do latim revolutio: trazer à tona o que está embaixo, girar, remover, transformar, querer de novo, voltar a querer). O que já temos em 2007 ? Além do que está em cada um de nós e em todos e que cada um sabe o que é, temos:
gestão participativa via conselho gestor e comissão municipal de letras e literatura, conforme programa de governo;
vozes próprias, maloqueiristas, casulos, tabas de corumbés, cigarras, tesinhos e tesões, lagartixas pretasvários autores premiados ...
muitos estudantes e suas escolas no casa -tour, bela e amorosa experiência bolada pelo zeca, em união com escritores da ELL e voluntários contadores
piano e poesia ao pôr do sol maior, às 5as fas, 18h30os conchas
parcerias e invasões de espaço: CRJ, Cineclube, Procom, Arte da cidade- Núcleo de Literatura Popular /CESA Jardim Santo André, ARCO, SEMASA, FIP e o possível FLLA, na Vila do mar visto de onde (segundo a Jurema, a Casa da Palavra agora é itinerante. Mais: a ELL agora é descentralizada)
O que sonhamos fazer? Em ocasiões públicas festivas, impregnar todos - a cidade merece-, de uma ação poética plena de êxtase, amor, utopias e milagres. Impregnar a praça, as ruas, a casa, a concha, os conchas, as lojas e os bares com cortejos quixotescos, sob as mil luas de marshmelow de prata espetadas na torre da igreja do Gerber, dentro dos vasos comunicantes dos Willerianos surrealistas, com a voz doce da brava Carol e o coro uníssono, polissêmico, reverente e irreverente dos pivianos órficos e reichianos todos, as espadas de mel da Vanessa De l' Ange, a cortesia e a pulsação incontidas do José Carlos, o coração do Adalberto, o sorriso da Zélia, as queixas e dengos da Clau, as chaves no país da Alice, as buzinas do Marcos, as asas cibernéticas e poéticas da Jobarranova, o ser fundamental da Conceição, a criancice da Jully, as dispensas cheias de guloseimas da Lara, a ameixeira de Rosana e o re- nascimento da árvore e da poesia, as tribunas de Arsitides Theodoro de Curiapeba, a era do rádio da Edna, as bochechas febris do Helinho, a contra-cultura cidadã do Zhô, o poder dos menores frascos da Jurema, as sonoras impulsões poéticas do Edson Bueno, os baús dos Bedeschi – Camargo e do mascote da ELL André, o visonário, ah! com a casa da conversa de mais um mascote, o Pietro; a esperança vermelha e as bodas de e do Blanco de Darwin, a soma com Adilson, o belo, o susto de Juliana, a bela, o heróico Alderico encostado no piano da Fabiana, o conto erótico-lírico da Jac menina, o Caio de ponta – cabeça, os tambores (internos e externos) da Nayê e Sapo, o cântico dos cânticos da Deise in lingerie, a poesia grandiosa e sempre disponível do Jorge, o susto de Rodrigo, a sorte da Marianinha e o amor de Piva por ela, a poesia barítona do Leandro, do antigo(sic!) OULIPO, vide Silvia e Marcos, as bandeiras da Maria José, símbolo dos mais de 800 que passaram pelos seminários do Lísias, a inquietude da Débora, os fatos poéticos do João, os pã, pã, pã do Paulinho, que Vanessa Maga viu, sentiu e trouxe do Piano e Poesia, a bem - aventurança de Fernando, vindo também via maga, as santas aparições de Odete e Ângela, os afetos e o charme da Lilian, os sonhos do Quixote e da Neli, a multi-artista desta exposição, a sábia e calma (hum?) Milena, os desejos loucos da enxaqueca's girl Pat, as visões encantatórias da Laurentino e da Mábia, performer ativista e piercianista (de piercing e não do Peirce, o semiólogo), a bela rebeldia da Elise, os Strawberry Fields da Hilda, Clarice, Gonçalo T, Derrida, Morin, Baudrillard, Coetzee, Woolf, Raul, H.Helder, Faulkner, Rosa, Machado, Leminski, Euclides, Rulfo, Cardenal, Craveirinha, Lacan, Pepetela, Sophia de M Breyner, Gerber, etc etc & Nietzsche, forever, 'se eu morrer não chore não, é só a lua’', os causos e blog da Tia Fia, os passos sensuais e a bênção do eterno Pafundi, único pai. E tantos mais, e tantos virão ...
Dos últimos, só pensando em Caio Fernando Abreu: creio que a glória de si mesmo
(descendo ou não aos infernos, ninguém nasceu para rastejar ou morrer, e muito menos para abrir mão de desejar e desejar o impossível)
está na criação, no ser-arte. Foi–se o tempo da mimesis, da praxis. Faz-se hora da poiesis.
Criemos.
A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história, em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem. – O Arco e a Lira, Octavio Paz
assim seja
Beth Brait Alvim
assessora de letras e literatura
coordenadora da casa da paalvra
escola livre de literatura de Santo André

Mostra virtual no blog www.arteneli.nafoto.net

sábado, 10 de novembro de 2007

Post 10: Vi em meus sonhos e escrevi

Chegando em casa após um belo sábado de curso sobre o mundo mágico da produção editorial*.... no trajeto para casa, lembrei-me de um texto produzido alguns anos atrás e que acredito ter um pouco do espírito das oficinas que acabo de participar. Está aí.

(*Participei de uma série de oficinas que fizeram parte do seminário "Quem mexeu no meu texto?" organizado pelo Instituto Mundo Cristão e realizado nas dependências da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Temas das oficinas: "O papel do escritor", "Argumento persuasivo","Fontes de inspiração e direito autoral")

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Vi em meus sonhos e escrevi

Àquelas horas, era um som já irritante e que tomava todo o quarto do apartamento 104 na rua das visões. Era uma já desesperada tentativa, de um jovem que há pouco havia descoberto prazer da escrita, mas tinha medo de escrever. Tentava sem sucesso desenvolver um conto que entraria no livro “Um conto, que Conto”, uma idéia da professora de redação para reunir os trabalhos produzidos durante o curso. O incomodo som era a “ventoinha” de refrigeração do computador, somado ao frenético estalido dos botões do teclado que àquelas horas perfaziam uma estrondosa parede sonora.
Na escrivaninha, ao lado do monitor, um punhado de livros recentemente lidos ou então de mestres que há tempos o acompanhavam. Dentre os quais Nelson Rodrigues, em uma coleção de contos e crônicas; o fabuloso “Revolução dos Bichos” de Orwell; um pequenino conto de Saramago sobre a ilha desconhecida; Sidney Sheldon em exemplar a anos surrupiado da biblioteca circulante de uma antiga professora; e sobre a pequena pilha, um livro magro de capa mole, cor de mostarda com o titulo em letras góticas “O Ginógrafo” do alemão Kaspar Krabbe. Aliás, o jovem nunca se convenceu de que a obra tivesse, de fato, sido escrita pelo velho alemão.
Os livros ali estrategicamente jogados compunham um pequeno altar, como se o jovem escrevesse aos pés dos deuses literários pedindo-lhes inspiração. Um sacrifício em vão.
No velho 3 em 1, herdado do pai, tocava um disco de Coltrane, e uma xícara com café pela metade completava o cenário. E a historia nada.
Olhava para as poucas linhas já escritas na madrugada anterior, para os livros ali amontoados, levantava-se olhava o breu da madrugada pela janela e voltava a sentar. Sentia-se, como imaginava, um cego a beira de uma estrada sem saber como avançar.
O jovem ameaçou ir deitar-se quando se lembrou de uma máxima que havia lido, sem entender, há poucos dias. “A evidência é para os olhos do espírito o que a visão é para os olhos do corpo”.A partir disso, pensou, esboçou alguns pensamentos num outro texto paralelo ao que já estava escrevendo, e ao terminar releu. Após uma longa pausa, uma bebericada no café que já gelava na xícara, disparou: SOFISMA!!! E puxando o fio da tomada, fez calar o som da ventoinha que já não podia suportar. Decidiu dormir.
Em seus sonhos, como uma aquarela em que cores se misturam formando um belo conjunto que agrada a vista, percebeu um colorido intenso onde se destacava o amarelo mostarda e do centro saiam letras que formavam palavras que se misturavam e borravam dando origem a novas palavras num ciclo interminável. A música de Coltrane que ouvia minutos atrás se convertera, no que imaginava ser a melodia do hino “Bichos da Inglaterra” que era entoado noite após noite na Granja do Solar, na fábula de Orwell. E pouco antes de acordar, uma última imagem: era uma mulher vestida de empregada que dizia algo como “todo homem é uma ilha que precisa ser descoberta”.
O brilho das cores enegreceu, a mulher escondeu-se na sombra, os bichos correram para sua revolução, e o sonho acabou. O jovem enfim entendeu, que tudo o que preciva já tinha, seus olhos para ver, o coração para sentir, seus sonhos para escrever. Sentiu-se pronto a fazer sua revolução, livre para escrever sem medo de ser incompreensível. Queria agora se descobrir, ir a diante e fazer acontecer. O jovem pôs-se a escrever e o som da ventoinha e o estalido do teclado voltaram a ecoar.
Daniel Oliveira

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Post 9 Cartas para ninguém ( I )



cartas para ninguém (I)



Santo André 19/09/06


Olá


São 20.00 horas, estou na aula do Willer.Não é hora nem local para te escrever: porém não resisto.Ele está lendo Rimbaud ‘Iluminuras’e sei o quanto você gosta disso.
Estou aqui e com você ao mesmo tempo, estou nas imagens maravilhosas, na porta que bate, nos meninos e vitrais, nos botecos e mansões, na rua suja, no arco-íris, no sangue e leite.Que mais posso dizer?
Setembro é nosso. A primavera é nossa, mesmo com todos os trovões e raios, todo caos e lua.
Ainda vejo as flores no pote de barro. Você não vê, não sabe que se estivesse aqui seria uma aproximação de nossas realidades diferentes em meio a um temporal cintilante.


Mas você não veio.


NMV