domingo, 25 de novembro de 2007

Post 12: o cego que devaneava no trem

Em Dias de sol imagino o som das crianças na rua

Brincando, correndo de cá para lá e de lá para cá

Suas mães gritando Zelando por suas vidas

Cuidado Menino!

Cuidado Menina!

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Imagino Musas sob o sol, ou

Com seus corpos a transpassar as ondas

E no final da tarde, com as águas mais calmas e

O sol baixinho no céu já indo embora,

como se mergulhasse no imenso azul do mar.

Eu imagino...

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Em dias de Chuva,

Vejo-me correndo na rua

O aguaceiro despencando sobre minha cabeça

E correndo em fio pelo corpo inteiro.

Ouço os murmúrios das moças galegas,

com água nas canelas secas - ai ui

Ouço a chuva

Parece música

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Nos dias frios

Quando ouço dizer: está nublado

Penso sobre o que é nublado

Afinal, não percebo bem o efeito das nuvens.

Percebo o calor do sol,

O geladinho da chuva,

Posso tocar as flores e sentir seu perfume

Mas e as nuvens?

Pego-me então a imaginar cores.

Tons não muito claros,

Não muito escuros

Tons cinzentos que trago na memória dos tempos de infância

Mas não me lembro das nuvens, fico confuso!

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Ah, o barulho do trem...

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Ouço agora o barulho do trem, que aguardava

...

____

Em meio a outros tantos ruídos

dessa paisagem sonora que me envolve agora,

percebo um diálogo que discorre num incrédulo

e monocromático olhar sobre o mundo.

Meus pensamentos haviam, então, sido interrompidos.

Eram vozes femininas,

falavam em tom frio e pessimista sobre um mundo que, pelas palavras, pareceu-me opaco, diverso ao modo que eu estava acostumado a imaginar.

Ao som de palavrões, que uma mais exaltada berrava,

Outra, dizia-se iludida, coisas de amor quando não dá certo, quando o coração faz a escolha errada. Contudo, justificava ser essa ilusão, a de que um amor impossível daria certo, o que a mantinha viva.

A amiga ainda exaltada, sem prestar muita atenção ao que a outra dizia, praguejava o maquinista, o trem, os passageiros e reclamava do tempo nublado.

O que fez com que retomasse meus pensamentos...

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Pensei que possivelmente esse meu mundo que imagino do escuro, talvez seja muito mais colorido do que, de fato, é o mundo que nos cerca.

Nesse mundo, o real, que talvez seja cão e atordoado pela presença do homem mau

A imaginação como aliada talvez seja saída para a crueza da realidade que nos cerca. Mas sem fechar os olhos, antes abrindo-os bem para assim como eu, um cego, ter coragem para que ainda de lá de dentro do túnel, poder enxergar alguma luz.

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Já chegou minha estação.




Daniel Oliveira

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